terça-feira, 23 de junho de 2009

Shakespeare and Company

Shakespeare and Company
Paris, França

Já fazia um tempo que eu tinha a ideia de inaugurar, aqui, uma série de posts sobre livrarias. E acabei me convencendo depois de visitar a Shakespeare and Company, em Paris, um dos lugares mais sui generis em que já estive. Misto de sebo, ponto de encontro e uma espécie de biblioteca - os livros do primeiro andar não estão à venda, mas podem ser consultados à vontade numa sala comunitária, com poltronas e sofás -, a loja aberta por George Whitman em 1951 virou atração turística da cidade. Você dá de cara com ela, na margem esquerda do Sena, na altura da Notre-Dame, e se espanta com a quantidade de gente com câmera em punho, tirando fotos da fachada, do antiquário anexo, das bancas com ofertas expostas no recuo da calçada.

Entrei na loja como quem entra em um pedaço de história literária. Primeira impressão: o cheiro. Livro velho e gente suja. Imagino o que aquilo não deve ser no inverno, época em que Jeremy Mercer morou na livraria. Sim, porque uma das características da Shakespeare and Company é abrigar estudantes e escritores-to-be em camas espalhadas pelos andares da loja. Não consegui ver nenhuma, tamanho o trânsito de gente e a estreiteza dos corredores, forrados de estantes com livros do chão ao teto, alguns caindo pra fora, outros empilhados no piso. Mas vi o cubículo de madeira com uma velha máquina de escrever e uma luz fraca sobre ela, onde os sem-computador ainda devem batucar romances. Vi a placa que recebe quem chega ao primeiro andar, e que diz Be not inhospitable to strangers / lest they be angels in disguise. Vi as cadeiras de tecido vermelho sob a escada toda torta, à disposição para quem quiser passar ali algumas horas de leitura grátis.

Fiquei me perguntando como achar alguma coisa em meio àquele acervo tão grande e, aparentemente, tão fragmentado. Uma olhada breve pelas estantes revelou prateleiras dedicadas à filosofia, ao teatro, à literatura estrangeira - de língua não-francesa, já que é o inglês o idioma oficial. No térreo, uma bancada reúne livros novos; edições novas, não necessariamente lançamentos. Aproveitei para comprar The corrections, do Jonathan Franzen, mais um para minha sempre crescente lista de livros a serem lidos.

Na saída, uma última olhada para a fachada da loja revela a placa com o rosto de Shakespeare e uma frase que eu não tinha lido antes, tamanha a ansiedade para entrar. Ela resume bem o espírito da livraria - e, de verdade, do que eu considero essencial para a vida. While thy booke doth live / And we have wits to read / And praise to give / Thou art alive still.

2 comentários:

César disse...

Que bom que você voltou! Sabendo que tinha ido para Paris e na época do acidente, minha mente mórbida tinha feito festa. "The Corrections" é fabuloso!

Isabel Pinheiro disse...

Oi César, obrigada! Eu viajei depois do acidente - confesso que com um certo medinho, não sou nem nunca fui fã de avião.

Não vejo a hora de começar o Franzen, mas ainda tenho alguns outros na frente dele. Bem, na verdade isso pra mim não quer dizer muita coisa: o humor na hora de escolher um livro influencia tremendamente, e às vezes um que estava planejado mais para a frente pula diante dos outros...

Um abraço, Isabel