domingo, 18 de julho de 2010

O mistério do leão rampante

O mistério do leão rampante
Rodrigo Lacerda (Ateliê Editorial, 2005)

Tem uma coisa que me deixa com muita raiva: livro que termina antes de chegar ao final. Esta edição de O mistério do leão rampante tem 160 páginas - mas a história acaba na 107. É que, ao publicar um volume comemorativo pelos dez anos da obra, a editora incluiu nele um texto chamado Confissões de Fabrius Moore, continuação da trama original. Sem nenhum aviso na capa. Tá certo que sou responsável pela frustração de chegar ao fim da história sem chegar ao fim do livro: não vi, na folha de rosto nem no sumário, que o Confissões... também fazia parte da edição. Mas não costumo ler folha de rosto. Nem sumário.

Tinha vontade de ler O mistério... desde seu lançamento, em 1995, mas, por um motivo ou por outro, não li, o tempo passou e nunca mais encontrei a obra nas lojas. Então fiquei feliz em comprar (por menos da metade do preço, na feirinha da FFCLH, ano passado) esta edição elegante, capa dura, com ilustrações de Negreiros. Os livros têm, para mim, enorme apelo táctil e visual - que acaba sendo inócuo se o que vem dentro não for bacana e bem-escrito. Pois gostei, tanto da história cômica e meio nonsense quanto da narrativa irônica, que dá voz a Valfredo Margarelon. Filho adotivo do Conde de Shropshire, ele vem a público, em 1602, para defender sua prima Maria Margarelon da calúnia a ela imposta por "três elementos nocivos à ordem e aos bons costumes do reino inglês" (um deles, um tal de Guilherme Shakespeare). Mas o comportamento da prima, segundo Valfredo, teve razão de ser: sonhos constantes com o tal leão do título, que levaram a moça primeiro a um estado de apatia profunda e, depois, de amalucada obsessão.

domingo, 11 de julho de 2010

Elza, a garota

Elza, a garota
Sérgio Rodrigues (Nova Fronteira, 2009)

Narrar de forma interessante uma história quase desconhecida e tão mal-contada pelas fontes oficiais não é tarefa fácil. Pra começar, quase não há assunto: Elvira Cupello Calônio, a Elza do título, teve uma vida curta e desprovida de grandes emoções, a não ser pelo fim violento. Foi do interior de São Paulo para o Rio de Janeiro, apaixonou-se, levou uma vidinha comum e passou uns dias na prisão por causa de seu namorado, capturado pela polícia de Getúlio Vargas depois da Intentona Comunista de 1935. Solta pelas autoridades, buscou abrigo na casa de amigos. E morreu assassinada, aos 21 anos - ou seriam 16? -, tida como traidora da causa revolucionária.

Se a trama parece familiar, é porque guarda algumas semelhanças com a de outra figura histórica, essa tratada em best-seller, e fruto da mesma época: Olga Benário. Olga, mulher de Luiz Carlos Prestes, atuava no Partido Comunista soviético e, depois de presa, foi mandada para a morte, na Alemanha nazista, pelo governo brasileiro. Elza era amante de Miranda, secretário-geral do PC no Brasil, e uma série de suposições feitas por membros do partido no Rio de Janeiro - Prestes inclusive - levou a seu assassinato, cometido pelas mesmas pessoas em quem confiou quando saiu da prisão, no começo de 1936.

Sérgio Rodrigues usou de um expediente engenhoso para contar a vida de Elza: dividiu a trama em duas narrativas, uma real e outra fictícia. Na real, que aparece no começo de cada capítulo, conta de sua pesquisa em busca de informações sobre Elza, transcreve trechos do processo que condenou os assassinos, reproduz partes da correspondência de figuras-chave para o caso, como o próprio Luiz Carlos Prestes. A fictícia também trata da História, agora em maiúsculas, ao colocar em cena um velho doente que recorre a um jornalista para escrever suas memórias. Testemunha da revolução frustrada de 1935, Xerxes conta a Molina como conheceu Elza, fala de sua participação numa passeata contra os integralistas e vai alinhavando os acontecimentos da época numa fala quase sempre nítida em detalhes. Assim como Molina, eu também me encantei pelo assunto. E, com este livro, aprendi mais sobre o passado revolucionário do país do que me deixam lembrar as aulas de História.

A melhor seleção do mundo

A melhor seleção do mundo
Eugenio Goussinsky e João Carlos Assumpção (Brasiliense, 2010)

A melhor seleção do mundo é a Espanha, como se viu hoje, mas o livro trata mesmo é do time do Brasil. Com ilustrações muito simpáticas de Gustavo Rosa, os autores contam, para crianças, histórias do grupo brasileiro desde que ele surgiu oficialmente, em 1914, quando ganhou de 2 a 0 de um clube chamado Exeter City. Falam da evolução do uniforme canarinho, traçam um panorama da participação do país em Copas do Mundo e, principalmente, falam de jogadores que marcaram época, como Zizinho, Didi, Pelé, Garrincha, Taffarel, Romário e Ronaldo.

Este já é o segundo livro sobre futebol que meu amigo João Carlos Assumpção, o Janca, escreve em parceria com Eugenio Goussinsky. Em 1998, eles lançaram Deuses da Bola, pela editora DBA, também sobre a seleção brasileira. Para minha sorte, tenho os dois livros - e autografados.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Hotel stories

Hotel stories
Francisca Matteoli (Assouline, 2002)

A editora americana Assouline é quase uma prima da alemã Taschen: ambas publicam volumes artísticos, feitos do melhor papel disponível, com uma seleção de temas e um cuidado gráfico pouco vistos por aí. São livros geralmente caros - embora de vez em quando eu consiga encontrar algumas pechinchas, como essa, e já tenha ganhado de presente outras obras da Taschen- e há muitos exemplares feitos para colecionadores, com preços que passam fácil dos US$ 300 e chegam a mais de US$ 1000.

Por motivos profissionais - e um preço bem mais razoável -, comprei em Miami este Hotel stories, certa de que estava adquirindo um livro bonito para me distrair com as situações vividas por uma série de celebridades em hotéis famosos ao redor do mundo. Bem, o livro é bonito. E as histórias de gente como Truman Capote (e suas festas no Plaza de Nova York), Dorothy Parker (e a Round Table no Algonquin), Agatha Christie (e um mistério envolvendo o hotel Pera Palace, em Istambul), Marilyn Monroe e Yves Montand (e o caso que tiveram no Beverly Hills Hotel, em Los Angeles, durante as filmagens de Adorável pecadora) são mesmo deliciosas. Mas, desta vez, a tentativa artística da Assouline não deu muito certo - não, pelo menos, para mim. Talvez na intenção de deixar as páginas com cara de antigas, já que muitas têm fotos de época, a fonte tipográfica usada no livro tem umas falhas, propositais, que tornam a leitura cansativa. Também senti falta de legendas nas imagens, pra saber quem eram os retratados, que partes do hotel eram aquelas ou quando as fotos foram feitas. Vai pra conta da minha chatice.