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Rodrigo Lacerda (Ateliê Editorial, 2005)
Tem uma coisa que me deixa com muita raiva: livro que termina antes de chegar ao final. Esta edição de O mistério do leão rampante tem 160 páginas - mas a história acaba na 107. É que, ao publicar um volume comemorativo pelos dez anos da obra, a editora incluiu nele um texto chamado Confissões de Fabrius Moore, continuação da trama original. Sem nenhum aviso na capa. Tá certo que sou responsável pela frustração de chegar ao fim da história sem chegar ao fim do livro: não vi, na folha de rosto nem no sumário, que o Confissões... também fazia parte da edição. Mas não costumo ler folha de rosto. Nem sumário.
Tinha vontade de ler O mistério... desde seu lançamento, em 1995, mas, por um motivo ou por outro, não li, o tempo passou e nunca mais encontrei a obra nas lojas. Então fiquei feliz em comprar (por menos da metade do preço, na feirinha da FFCLH, ano passado) esta edição elegante, capa dura, com ilustrações de Negreiros. Os livros têm, para mim, enorme apelo táctil e visual - que acaba sendo inócuo se o que vem dentro não for bacana e bem-escrito. Pois gostei, tanto da história cômica e meio nonsense quanto da narrativa irônica, que dá voz a Valfredo Margarelon. Filho adotivo do Conde de Shropshire, ele vem a público, em 1602, para defender sua prima Maria Margarelon da calúnia a ela imposta por "três elementos nocivos à ordem e aos bons costumes do reino inglês" (um deles, um tal de Guilherme Shakespeare). Mas o comportamento da prima, segundo Valfredo, teve razão de ser: sonhos constantes com o tal leão do título, que levaram a moça primeiro a um estado de apatia profunda e, depois, de amalucada obsessão.