domingo, 18 de outubro de 2009

Paciente particular

Paciente particular
P.D. James (Companhia das Letras, 2009)

Eu nunca havia lido P.D. James até ganhar este livro de presente - e, ainda no início, cheguei à conclusão de que não posso me considerar uma legítima fã de policiais sem conhecer tanta coisa bacana. Só neste ano, fui apresentada a três autores, digamos, já bem rodados nas histórias de detetives: Fred Vargas, Henning Mankell e a agora querida P.D. James. E faltam tantos... Patricia Highsmith, por exemplo, de quem só li O amigo americano, e há tanto tempo que não me lembro de quase nada.

Paciente particular ganhou minha simpatia logo de cara porque o clima, o ambiente, os personagens fizeram com que eu reconhecesse, ali, um toque de Agatha Christe, de quem podem falar mal à vontade que eu vou continuar adorando anyway. Talvez tenha sido o cenário - uma mansão no interior da Inglaterra transformada em hospital particular -, ou a personalidade quase hermética das principais figuras envolvidas na história, ou o hábito tão britânico e agathachrístico do chá da tarde, ou a hierarquia um tanto ritualística seguida pelos moradores da clínica. Sei que, de repente, eu estava esperando que aparecesse ali, em Cheverell Manor, não o investigador Adam Dalgliesh (por quem só não me apaixonei porque meu coração já pertence a Jean-Baptiste Adamsberg), mas Hercule Poirot ou Miss Marple.

Rhoda Gradwin é uma jornalista especializada em descobrir o podre de pessoas poderosas. Dona de uma cicatriz que corta seu rosto, ela resolve internar-se na clínica do famoso cirurgião plástico George Chandler-Powell. A operação é um sucesso - mas Rhoda nunca chega a ver seu rosto reconstruído, já que morre assassinada logo depois da intervenção. Todo mundo é suspeito: o médico, o médico-assistente e sua irmã acadêmica, a enfermeira-chefe, a governanta da clínica, a empregada maluquete, o casal de cozinheiros, a contadora. Por causa de uma frase do final do livro que eu li sem querer e, ironia, interpretei errado, descobri o assassino bem antes de Dalgliesh. Mas nem isso tirou a graça da trama e o envolvimento que eu senti com tudo aquilo. Atrás de mais P.D. James, pois.

6 comentários:

Cláudia disse...

Posso dar uma sugestão, Isabel? Uma certa Justiça e Pecado original, os dois primeiros P.D. James que li, são ótimos, acho que você vai gostar. Cá entre nós, quando eu crescer, quero ser a P.D. James... Uma perfeição de velhinha inglesa, não?

Isabel Pinheiro disse...

Eu também quero! Adorei P.D. James. Agora estou atrás dos livros do Dalgliesh - mas, como tenho um certo TOC, gostaria de ler pela ordem em que foram publicados. E em dezembro vai sair, em inglês, o livro que ela escreveu sobre policiais, "Talking about detective fiction". Mal posso esperar!

Beijos

Thiago Maia disse...

Oi, Isabel, "conheço" você do Todoprosa e, desde o post sobre "Assassinos sem rosto", tenho visitado seu blog.
Também leio P. D. James e recomendo que você realmente siga a ordem de publicação, pelo menos a ordem dos livros com Dalgliesh.
No link abaixo está a lista. Quanto às versões brasileiras, "Cover her face" saiu primeiro como "A chantagista" (em que, seguindo o original, a personagem principal chama-se Adam Dagliesh, sem o primeiro l, que James depois decidiu acrescentar e consta, claro, da versão contemporânea da Companhia das Letras) e depois como "O enigma de Sally". James tomou cuidado para que a ordem dos livros não importasse ao leitor, no que se refere à manutenção do mistério principal em cada história, mas, como você concorda, ela é uma grande escritora e ponto, independente de gênero literário, e seus livros têm muito mais que os tais mistérios: então, nesse ponto - o ambiente e as tramas envolvendo as vidas pessoais de Adam e seu cast -, sim, é melhor ler os livros sem saltear. Infelizmente faz tempo que os seguintes títulos foram publicados aqui: "Unnatural causes" e "Shroud for a Nightingale", que só saíram há muitos anos pela Francisco Alves, "A Taste for Death" pela Best-seller, e "Devices and Desires" pela Best-seller e pelo Círculo do Livro. Sugiro a você a leitura de outra grande escritora viva; condecorada pela coroa inglesa; ainda mais prolífica e de tão boa qualidade quanto James; e muito publicada aqui: Ruth Rendell (que também assina Barbara Vine). Sobre Rendell, a própria P. D. James disse: "She has transcended her genre by her remarkable imaginative power to explore and illuminate the dark corners of the human psyche."
Um abraço.
http://www.amazon.com/Adam-Dalgliesh-books-in-order/lm/L1HSWVLI3JHM/ref=cm_lmt_DYNA_f_2_russss0?pf_rd_p=496997231&pf_rd_s=listmania-center&pf_rd_t=201&pf_rd_i=0307270777&pf_rd_m=ATVPDKIKX0DER&pf_rd_r=0T40TES19JG58YEBZQ1Y

Isabel Pinheiro disse...

Thiago, muito obrigada! Eu comprei "The Murder Room" (porque gostei do nome) para o Kindle, mas agora vou seguir essa ordem. Imagino que, com Dalgliesh, deva acontecer a mesma coisa que acontece com o Adamsberg da Fred Vargas: o personagem tem tanta importância - ou desperta tanto interesse (às vezes até mais) - quanto o mistério em si.

E do Mankell, você gostou?

Um abraço

Thiago Maia disse...

Pelo seu post, acho que gostei mais que você, incluindo aí, engraçado, principalmente a passagem do desencontrado grande amigo, depois criador de cavalos (é coisa de quem nasceu no sul de Minas e há um ano mora no norte da Bahia...). Mas só li esse.
Da Fred Vargas li primeiro O homem do avesso (gostei muito apesar de conseguir acertar antes o final) e Fuja logo... (Achei menos bem escrito, apesar de ter gostado muito das passagens e do universo do "apregoador" - é isso? - e do primeiro parágrafo, o dos texugos, serpentes etc.) Um abração.

Isabel Pinheiro disse...

Oi, Thiago! Eu acho que vou ler mais um Mankell pra ver se minha impressão se mantém. E você tem razão sobre Fred Vargas, acho até que eu escrevi sobre isso no blog: os finais são previsíveis. Ela usa muito uma mesma fórmula. Eu gosto muito dela mais até por causa dos personagens do que dos mistérios em si, num efeito semelhante ao que você citou sobre os livros de P.D. James.

Aliás, não achei o primeiro livro do Dalgliesh pra comprar. Por enquanto, vou de "Murder Room" mesmo, assim que eu acabar o Updike que estou lendo.

Bjs!