sexta-feira, 4 de junho de 2010

Doutor Pasavento

Doutor Pasavento
Enrique Vila-Matas (CosacNaify, 2010)

Só existe um homem no mundo, e ele não faz mais parte da minha vida, capaz de entender a idolatria que mantenho por Enrique Vila-Matas. Era meu duplo. Não sinto exatamente saudade - encontrar o duplo pode trazer muita alegria e muito infortúnio, como disse hoje uma amiga -, mas de vez em quando o vazio se manifesta de maneira mais forte por eu saber que não existe mais ninguém com quem conversar sobre, por exemplo, Doutor Pasavento; não, pelo menos, do jeito como eu conversava com ele.

"Possibilidades" era nossa palavra favorita - assim mesmo, no plural. E, neste livro, Vila-Matas trata de uma possibilidade que me é particularmente sedutora: a de desaparecer. Que não é morrer, mas desaparecer apenas, sumir no mundo, fugir da própria insignificância para saber se alguém dá pela falta da gente. Agatha Christie fez isso, como lembra o Doutor Pasavento no livro. (Sim, deram pela falta dela.)

Como todos os meus Vila-Matas, este também está todo marcado, com períodos inteiros sublinhados a lápis, anotações nas margens - será que, daqui a um tempo, vou me lembrar o que quis dizer com cada comentário? Acredito que sim. Diz a crítica que Vila-Matas é um "escritor de escritores" e, embora eu esteja longe de praticar o ofício, o tema é importantíssimo para mim. Falar da escrita, pensar sobre a escrita, tentar viver a escrita. Desaparecer para escrever e escrever para desaparecer.

2 comentários:

k. disse...

acho que esse é um dos post mais bonitos que eu já li aqui (devo confessar também que me deixou um bocadiho triste). engraçada essa história de desaparecer. creio que todo mundo já teve essa vontade de sumir, desaparecer. em casa, eu sempre quero isso aconteça. não vou pedir para vc me emprestar o livro porque eu sei que vc não vai mesmo. mas vou colocá-lo na lista de próximas aquisições. valeu pela dica. beijos!

Isabel Pinheiro disse...

é, você sabe que livro anotado não dá pra emprestar... :-)

não fique triste, não. eu não fico. e você sabe que, se tudo passou, se eu consegui passar por tudo aquilo sem ter desaparecido pra sempre, boa parte foi por ter você ao meu lado.

beijo grande